O Agrário verde-amarelo
Keywords:
Industrialização, Economia Agricola, Crise econômicaAbstract
- Resumo:
Nos últimos 40 anos, o Brasil passou de um conglomerado de plantações para um expressivo parque industrial agrário e de serviços. Passou do campo para as cidades. Das oligarquias rurais para os novos grupos, segmentos e classes sociais, e uma classe média afluente.
O problema atual de ajustar as contas do governo, de retomar o crescimento e de aprimorar a democracia como forma de organização pública da vida nacional é a maneira de aparecer do velho dilema: acumulação ou distribuição? Numa situação de profunda crise interna e de gigantescas mudanças no âmbito internacional.
A crise nacional repousa precisamente nisto: não se conseguiu um consenso sociopolítico mínimo entre os segmentos sociais mais representativos para implementar um projeto político capaz de gerar operadores legítimos para contrariar certos interesses e estimular a outros, e, ao mesmo tempo, realizar alianças para a implementação deste projeto. A crise brasileira tem uma especialidade que a distingue de qualquer país desenvolvido. Trata-se aqui de constituir a cidadania como uma situação social possível de ser alcançada pelas grandes maiorias, sendo que se aceita a forma democrática como a instituição necessária para superar os conflitos inerentes a esse processo.
Face a este quadro cabe, desde o ponto de vista das atividades agrárias e agroindustriais, perguntar: A que herança renunciamos? A que herança aceitamos? Como aceitar e renunciar se posicionam frente à necessidade de desbloquear o crescimento e superar o subdesenvolvimento? Como pensar o futuro brasileiro visto através das forças agrárias herdadas?
Uma avaliação geral nos permite dizer que a modernização do meio rural no Brasil foi parcial. Encarada do ângulo dos produtos, dos produtores, das localidades e regiões, a modernização foi um processo parcial. Mas, dizer somente isto seria muito pouco, uma vez que seria fazer tabula rasa do principal, ou seja, que a parcialidade impôs condições gerais de produção e distribuição.
O futuro nos indica que a concentração nas atividades agrárias dinâmica será uma tendência marcante. Pensar em contrapor-se a ela por processos tais como a desconcentração da propriedade da terra, democratização da vida econômica e social da gente pobre e miserável de campo, seria uma forma anacrônica de encarar a superação possível dos problemas dessa gente.
O subdesenvolvimento do Brasil não radica em sua agricultura, em sua agroindústria e em sua indústria, comércio e serviços, mesmo que nestes setores, como em outros de nossa vida nacional, tenhamos que superar defasagens tecnológicas, organizacionais e institucionais. Nosso subdesenvolvimento se funda na inexistência de instituições capazes de permitir a transferência de fundos intersetoriais, em relação aos quais se considere os serviços sociais como condição indispensável para assegurar o crescimento econômico e uma coesão social dinâmica.
Os serviços sociais não poderão ser vistos como um desperdício do excedente econômico-financeiro gerado na dita esfera produtiva da economia. Há que entendê-los como um resultado de várias revoluções industriais, contemporaneamente requeridos para que novas revoluções econômicas possam acontecer.
- Abstract:
In the last forty years, Brazil went from a conglomeration of plantations to being an impressive industrial park, and agricultural and services sectors. It moved from the country into the cities; from rural oligarchy to new social groups, segments and classes, and an affluent middle class.
The current problem of adjusting government accounts, of reactivating growth and fine tuning democracy as a public organization for the inhabitants of a country, is just another side of the same dilemma: accumulation or distribution or distribution, in a time of profound internal crisis and unprecedented changes throughout the world.
A national crisis is simply the inability to achieve a minimal sociopolitical consensus among the most representative social segments, in order to implement a political project that can generate legitimate actors to counteract certain interests and stimulate others, and, at the same time, establish alliances to execute the project.
The Brazilian crisis has unique characteristics which distinguish it from all other developed countries. Brazil is trying to establish a society in which all its citizens can fully enjoy their overcoming the conflicts that are inherent to this process.
Faced with situation, and from the point of view of agricultural and agroindustrial activities, we must ask ourselves: What inheritance do we relinquish? What inheritance do we accept? how can we decide to accept and relinquish in view of the need to promote growth and eliminate underdevelopment? How can we think of Brazil's future, considering the agricultural forces that have been inherited?
A general evaluation of rural modernization in Brazil indicates that it was only partial. From the point of view of products, farms, locations and regions, modernization was a partial process. But, to say only this would be an understatement, because this partial nature of process imposes general conditions on production and distribution.
The future indicates that the concentration of dynamic agricultural activities will become more and more prevalent. To counteract this with process such as the desconcentration of land ownership, capital, wealth, and market power in order to democratize the economic and social lives of the poor and impoverished rural population would be an outdated way of overcoming the problems that beset this sector.
Underdevelopment in Brazil does not stem from its agriculture, its agroindustry or its industry, trade or services. Even in these sectors, as in other sector of our collective national life, we have to overcome technological, organizational and institutional gaps. Our underdevelopment is based on the lack of institutions that can transfer intersectorial funds. With regard to these institutions, social services are seen as a sine qua non for ensuring economic growth and dynamic social harmony.
Social services cannot be seen as the economic-financial leftover surplus generated in the so-called productive sector of the economy. They must be seen as the result of several industrial revolutions, and are still necessary today in order to bring about new economic revolutions.