Industrialização e urbanização no Brasil : conhecimento e atuação da geografia

Autores

  • Pedro Pinchas Geiger

Palavras-chave:

Industrialização, Urbanização, Teoria do Conhecimento, Geografia Urbana, Industrialization, Urbanization, Theory of Knowledge, Urban Geography

Resumo

O trabalho aborda a elaboração do conhecimento geográfico e a atuação de instituições geográficas brasileiras nos últimos 50 anos, período em que teve inicio a institucionalização da Geografia, como atividade regular e contínua, acadêmica e profissional. O propósito de refletir sobre o passado é o de ampliar o pensamento sobre o futuro.

A primeira parte compreende a análise da implantação de instituições e sua evolução. Na década de 30, surgiram:

As Faculdades de Filosofia, nas quais foram criadas Cursos de Geografia e História. Inicialmente, dedicaram-se fundamentalmente ao preparo de professores ·para o 2.0 grau. A USP se adiantou como centro de pós-graduação. Na fase da modernização, a partir dos anos 70, cresce o papel dos Departamentos de Geografia, como centros de pesquisa e pós-graduação;

O IBGE, reunindo atividades estatísticas, cartográficas e geográficas. Inicialmente, sua Geografia deveria cumprir, em relação ao interior do país, papel aproximadamente semelhante ao que cumprira para a expansão dos países do centro no século passado. Nas primeiras fases da Instituição, prevaleceu a Geografia Física. A proporção que o Pais se urbaniza e se industrializa ascende a Geografia Humana, e o IBGE acaba inserido como peça de um sistema de planejamento econômico-social, A Geografia Física é integrada numa Superintendência de Recursos Naturais. Inicialmente, o IBGE era o principal foco acadêmico da Geografia, porta de entrada das inovações e seu difusor. Com a ascensão da universidade e o envolvimento crescente no planejamento, esta função se retraiu em termos relativos. Comissão Nacional da UGI e Seção Nacional do IPGH são tratadas nas suas ligações com o IBGE;

A AGB é o órgão cultural de massa, onde instituições e correntes se enfrentavam. Desde os anos 70 passa por intensa politização, recentemente com excessivo posicionamento partidário da direção nacional, o que reduz o debate. Paralelamente, surgem novas formas de encontros acadêmicos, promovidos pelos centros de pós-graduação.

A segunda parte trata das correntes de pensamento vividas no Brasil, destacando:

A linha vidalina, cuja postura naturalista e neutralista lhe fornecia o suporte político para se impor como escola hegemônica; ao rejeitar o determinismo grosseiro, introduzindo o possibilismo, na verdade substituiu o conceito de determinações históricas; pelo de determinações geográficas, o que, no fundo, é forma disfarçada de determinismo;

Atendendo a outras posições filosóficas, já desde os anos 40 se praticava uma geografia vinculada à Economia Política, que pretendia contribuir de forma explícita para a transição do Brasil agrário para um Brasil industrializado e urbanizado Mais preocupada com a filosofia do que com a epistemologia, se fixou mais da economia nos espaços geográficos, do que nos processos da elaboração de estruturas espaciais, a não ser quanto ao processo regional. O desenvolvimento abriu espaço para a sua expansão, afirmando-se o caráter social da Geografia;

Para uma segunda fase de industrialização e urbanização, o Estado monta um vasto sistema de planejamento. Neste contexto se insere a Geografia Quantitativa, destinada a indicar os caminhos da difusão maior do capitalismo, a organização do território, como reflexo da maior organização dos aparelhos de administração e controle do Estado. Tratava-se do avanço do campo industrial no país, cuja maior complexidade valorizava o tratamento da variável espacial. A organização do espaço passa a ser o objeto do conhecimento da Geografia, que inicia a incorporação de preocupações epistemológicas. O caráter social da Geografia é reafirmado. Contudo, neopositivista, a Quantitativa, adequada para o momento político em que entra no país, não se ocupa do processo histórico. Os espaços são formados por determinismos econômicos, não se fala da formação social.

O movimento de transição do campo industrial para o campo urbano, ou para a sociedade urbana, dá suporte às inquietudes e novas buscas da Geografia. Abrem-se as oportunidades para o desenvolvimento das Geográficas Criticas, particularmente da Geografia Radical. Esta, negando a Quantitativa, resgata, porém integrando, a estruturação do espaço como objeto do conhecimento geográfico, considerando-a uma instância da formação social. Assim, volta à base filosófica da Geografia da Economia Política.

De certo modo, até o advento das chamadas correntes críticas, todas as escolas contribuíram para o avanço do conhecimento e para a transição do Brasil para o campo industrial, embora os compromissos de cada uma fossem com distintos segmentos da formação social.

De forma mais ou menos consciente, massas de população, setores organizados, instituições, inclusive oficiais, estão atuando para a transição à sociedade urbana. Não é fácil conceber o acabamento desta sociedade, mas já temos os indícios de que ela dará grande importância ao formato de seu espaço geográfico. Consequentemente, sem perder nunca uma postura crítica, cabe à Geografia participar das novas articulações que se estabelecem, inclusive na administração pública, para o advento da sociedade urbana.

Diante do exposto, a Geografia passa a ser uma Ciência Política. A análise consiste em destacar um objeto da totalidade a que pertence; a síntese consiste em refazer o todo, racionalmente, recolocando os objetos analisados. Se a racionalização da vida humana na sociedade urbana esperada compreende a produção racional do espaço do homem, então a Geografia é uma Ciência de Síntese.

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Publicado

2019-02-04

Edição

Seção

Artigos